23 de fev. de 2014

Sonhadores

A rua estava deserta, era tarde e estava frio, ninguém ousava sair de casa, olhava pela janela apesar de tudo, escondida na penumbra, observava a calmaria da noite, a luz ténue e amarelada dos candeeiros urbanos, não havia lua mas o céu estava razoavelmente limpo. Ouvi um chiar, provavelmente proveniente de algum carro que vagueava pelas ruas vazias, ocupado por alguém louco o suficiente para estar acordado àquelas horas, alguém louco, como eu que observava aquela rua cheia de nada. Pensei nele, a criatura que mais me tinha cativado, os traços dele tinham-se enevoado de certa forma na minha mente, parecia-me mais arrogante apesar de outrora os ter achado afáveis, uma criatura, igualmente cheia de nada.
A vida teimava em dar as suas voltas, sem permissão, tal qual carrossel rodopiando sem destino sonhando alcançar alguma distância.
Talvez fosse essa a metáfora perfeita para os corações perdidos que se retinham em modo voyeur protegidos dentro de quatro paredes, aqueles que observam sem ser observados, sonhadores.

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